09 - A Epístola aos Romanos
Parte 9
“A essência da liberdade cristã”
Texto bíblico: Romanos 9
Texto áureo: Romanos 9:20
Introdução (Rm 9:1 a 5)
Paulo parece responder uma importante pergunta, que seria: se tudo o que tem sido dito em relação à segurança quanto às promessas de Deus é verdade, como explicar o que aconteceu aos israelitas? Como explicar a sua rejeição a Jesus Cristo, e a rejeição de Deus em relação a eles? O Paulo admite que é verdade, e começa lamentando a situação de Israel, dizendo que, se ele pudesse, daria a sua própria vida, como fez Moisés no passado, para que o seu povo fosse salvo. Não nega, também, que a posição deles, sem dúvida, era uma posição privilegiada, porque a eles pertencem a adoção, e a glória, e, também, pertencem às alianças, a lei, o culto, as promessas, os patriarcas, e também Cristo pertence a eles. E Paulo lamenta a situação deles, e admite que esta é uma questão séria a ser levantada.
A liberdade cristã é um fator primordial (Rm 9: 6 a 13)
Paulo advoga, então, que é preciso entender que os filhos de Deus, ou seja, os verdadeiros israelitas, são de fato os filhos da promessa. Foi assim na História, porque a descendência foi chamada em Isaque, e também porque Deus escolheu Jacó antes mesmo do nascimento de dele e de seu irmão; e isso significa que Deus, quando prometeu a Abraão que a descendência dele seria uma bênção, etc. Ele não estava falando de toda a descendência, mas de uma seleta descendência, que Paulo chama de “os filhos da promessa”. Ao dizer isso, Paulo está chamando a Igreja para esse lugar especial, esse lugar privilegiado. Ele está introduzindo aqui o assunto para concluir que a Igreja é este símbolo da promessa, e que os verdadeiros israelitas se uniriam à Igreja, e a Igreja se uniria a eles. Portanto, não houve nenhuma falha: a coisa continua sendo como sempre foi. Os filhos de Deus são os filhos que Ele elege; não são filhos por hereditariedade, mas por eleição. E é nisto que consiste toda a certeza e toda a liberdade cristã, toda a convicção de ser filho de Deus e de ter garantido o seu futuro.
Como se expressa em nossas vidas (Rm 9: 14 a 16)
O Paulo insiste em afirmar a questão da redenção, dizendo que essa coisa da misericórdia e do chamado é um problema de Deus, e que não há nenhuma injustiça em Deus por causa disso; Ele vai ter misericórdia de quem Ele quiser ter, e se compadecer de quem Ele quiser se compadecer, e que, portanto, não de depende de quem quer, nem de quem pode, mas de Deus nos dar a sua misericórdia. E é nisso, e apenas nessa eleição, que se identifica o povo de Deus. Em outras palavras, Deus deu a uma nação historicamente definida as suas promessas, e os patriarcas e os profetas, etc., mas, de fato, ainda que esta nação historicamente definida tenha recebido toda essa visitação divina, todas essas promessas e todos esses eventos; a aliança de Deus, de fato, é com os Seus eleitos. Paulo já está deixando claro que, mesmo dentro de Israel, Deus tinha os Seus eleitos, e que de fato é com estes que Deus vai trabalhar. Então, ele já está explicando a rejeição que Israel teve para com Jesus Cristo, e porque Israel foi aparentemente rejeitado: é porque, de fato, a questão não é de rejeição, mas é de eleição. Não é que Deus tenha rejeitado quem quer que seja: Deus sempre trabalhou com os seus eleitos, e continua fazendo isso. Então, do Israel histórico, Deus trabalhou com os eleitos. A Igreja — os que são de fato membros da Igreja — vai ser unida a esses eleitos de Israel, porque os que são verdadeiramente da Igreja, a exemplo dos verdadeiramente israelitas, também são fruto da eleição. E é assim que essa certeza cristã se estabelece: o cristão pode desfrutar da liberdade de viver na certeza de que vai chegar ao final do caminho como um santo de Deus porque o que garante isto a ele é a sua eleição por parte de Deus; é a misericórdia de Deus em sua vida. Paulo vai construindo todo um argumento para dizer que Deus sempre trabalhou assim, e que não houve mudança em Deus desde o princípio.
O que Israel não tinha, o povo de Deus tem (Rm 9:17 a 21)
O apóstolo das gentes deixa claro que a soberania de Deus é inquestionável, e Deus é quem elege; não cabe a nós discutirmos com Deus, porque Ele é quem é o oleiro. Ele tem direito sobre a massa, foi Ele quem determinou os eleitos e se determinou a trabalhar com eles. Então, esta é a consciência que a Igreja tem hoje, e que Israel nem sempre teve: a consciência de que Deus trabalha com os eleitos. E essa eleição é o que nos faz viver sem medo de sermos derrotados pelos nossos próprios pecados, porque o que nos garante a firmeza necessária para continuar na estrada é a eleição de Deus e a sua fidelidade.
A liberdade que nos faz vencedores (Rm 9: 22 a 24)
O autor deixa claro aqui que o nosso papel não é o de questionar, mas o de admirar que Ele, o Senhor, tenha decidido compartilhar as riquezas de Sua glória em vasos de misericórdia, vasos que Ele mesmo preparou de antemão; e esses vasos somos nós. Esta liberdade que temos de ser filhos de Deus por causa da Sua eleição, esta liberdade que temos de ser santos e irrepreensíveis por causa da Sua eleição, esta liberdade que temos de servi-lo por causa da Sua eleição, é que fará de nós os vencedores na estrada que estamos trilhando. Esta liberdade é fruto do fato de que Deus garante a nossa caminhada: Ele nos sustentará nessa caminhada. Não quer dizer que a gente pode fazer o que quiser, que Ele vai nos sustentar sempre, mas quer dizer que, porque Ele nos sustenta, nós vamos conseguir fazer a vontade dEle. Esse é o segredo; e isso é o que nos faz, de fato vencedores: a liberdade que hoje temos de servir. É preciso lembrar que liberdade, na fé cristã, não é nem libertinagem nem autonomia em relação a Deus: liberdade é liberdade para ser homem, liberdade para ser gente. E ser gente é amar a Deus acima de todas as coisas e servi-Lo de todo coração. Os que alcançaram esta liberdade de ser gente são os que Deus elegeu para tanto.
Como exercê-la positivamente no mundo (Rm 9:25 a 29)
Essa situação já havia sido profetizada pelo profeta Oséias e pelo profeta Isaías, a de que o Senhor salvaria um remanescente e que o Senhor traria um povo distante. Portanto, Paulo está dizendo: “vocês podem confiar nas promessas: não pensem que as promessas falham porque Israel falhou, e não pensem que a falha de Israel tem a ver com o fato de que Deus falhou em sustentá-los, ou de que o próprio homem pode se desviar”. Paulo está dizendo que sempre foi deste jeito que Deus trabalhou, a partir da eleição; e que os que foram eleitos em Israel permaneceram firmes até o fim. E a Igreja é enxertada no Israel eleito, não é enxertada no Israel histórico, apenas, no Israel nação historicamente definida; é enxertada no Israel eleito. Então, os verdadeiros filhos de Deus são enxertados no Israel eleito, e podem ter a segurança de que, assim como Deus foi com o Israel eleito, será com a Sua Igreja, e que isso não tem nada a ver com a força humana, mas tem a ver com a fidelidade de Deus. O Paulo arremata: Deus tem todo esse direito porque os seres humanos só conseguem ser gente, na plenitude do termo, pelo poder de Deus, pela graça de Deus. Se Deus não tivesse estabelecido eleitos em Israel, Israel teria se desviado e se tornado como Sodoma e Gomorra. O que sustentou o Israel histórico foi o Israel eleito, e dessa forma é com a Igreja: a Igreja foi enxertada no Israel eleito. Então, não há nenhuma crise aqui. Sempre foi assim.
Conclusão (Rm 9: 30 a 33) O Paulo está deixando claro que não é que Israel falhou, ou que Deus falhou com Israel, nada disso. Deus sempre trabalhou com os eleitos, foi assim desde o princípio e será assim até o fim. Os gentios, que não buscavam justificação, alcançaram-na por causa da eleição. E a prova de que eles foram eleitos é que eles tiveram fé — e fé é um dom de Deus. Já o Israel histórico se perdeu porque não recebeu o dom da fé. O Israel eleito recebeu a fé, e pela fé triunfou. O Israel histórico, apesar de ter todo o conhecimento da lei e todo o conhecimento dos fatos, tropeçou na pedra de Sião, que é o próprio Jesus Cristo — porque a única maneira de não tropeçar na pedra de Sião era ter fé, e faltou-lhes a fé. A Igreja, a verdadeira Igreja, também é fruto da eleição, e o que marca o fato da sua eleição é a sua fé naquele que foi posto em Sião. Desta maneira, Paulo conclui o que já havia dito antes: não depende de quem quer, nem de quem pode, mas de Deus ter misericórdia; Paulo conclui o que já havia acelerado: não é pela lei, é pela graça. Foi assim com o Israel eleito, e será assim com todos os gentios eleitos para participarem da Igreja.
________________________________________________________________________________
2007 Ariovaldo Ramos