13 - A Epístola aos Romanos

Parte 13

 

Epístola aos Romanos, uma mensagem para hoje”

Texto bíblico: Romanos 15 e 16

Texto áureo: Romanos 15: 13



Introdução (Rm 15: 1 a 13)

O apóstolo conclui o que havia desenvolvido no capítulo anterior, deixando claro que Deus espera que a unidade da Igreja seja nossa busca constante, e para que Deus seja glorificado, sejamos como Cristo, acolhendo uns aos outros, como Deus nos acolheu. É uma busca pela unidade, uma busca para fazer surgir esse novo homem coletivo que Paulo ensina em Efésios. É também um esforço para que homens de toda raça, tribo, língua e nação possam ver na Igreja essa glória e possam ser levados também à obediência e à glorificação do Nome de Deus. Esse desafio permanece até hoje. Estamos muito divididos. A história que legamos é a que nos foi legada, uma história de divisão, porém Paulo nos exorta a repensar isso. Ele nos exorta à prática do acolhimento, à busca da comunhão. O argumento de Paulo aqui passa muito perto do argumento de Jesus Cristo em João 17, quando Ele diz que; “sejam um para que o mundo creia que tu me enviaste”. O apóstolo Paulo tem um argumento bastante semelhante, que essa busca da unidade fará com que os gentios glorifiquem a Deus por causa de Sua misericórdia. A idéia é que na nossa unidade façamos o mundo ver Cristo como Ministro da circuncisão, ou seja como Aquele que é capaz de circuncidar os corações humanos, como Aquele que é capaz de mudar os corações humanos, e esse é o tipo de coisa que a gente só demonstra com a vida, e principalmente com a vida comunitária. O que tem caracterizado a raça humana, desde tempos imemoriais, é a divisão, a guerra, a discussão, o preconceito, o juízo, o desprezo mútuo. A guerra é a violência. Como provaremos que nossos corações foram circuncidados por Jesus Cristo se continuarmos movidos pela mesma violência, pelo mesmo preconceito, pelo desprezo mútuo, pelo espírito divisionista? Essa é a argumentação de Paulo. Quando buscamos a unidade de todo o coração, testemunhamos que Jesus Cristo é verdadeiramente o Príncipe da Paz, é verdadeiramente o Grande Reconciliador. É Aquele que vem para restaurar a unidade humana. Hoje espreita-nos o mesmo desafio, que já no começo da Igreja Primitiva espreitava o povo de Deus.



O exemplo de Cristo conduzindo nosso viver (Rm 15: 14 a 21)

Cristo foi Aquele que nos acolheu. Cristo é Aquele que nos tem acolhido. Cristo é Aquele que nos acolherá finalmente, num único Corpo onde já estamos, no homem coletivo que já somos, para que brilhemos com a glória de Deus, segundo as promessas que recebemos do Senhor para todos aqueles que crêem. Cristo fez isso acolhendo-nos, Cristo fez isso evangelizando paz, Cristo fez isso trazendo sobre nós a graça de Deus. Esse tem de ser o nosso exemplo, de fazer como Cristo, ser ministro de Cristo entre todos os povos, anunciando o Evangelho de Deus. Anunciar o Evangelho de Deus é anunciar o Evangelho da Paz, é se deixar possuir de bondade, e nos admoestarmos uns aos outros em prol da unidade, em prol da glória de Deus. Ser ministro de Cristo é levar aos demais homens a oportunidade de virem à obediência, a oportunidade de serem santificados pelo Espírito Santo, a oportunidade de também oferecer a Deus ofertas de louvor e adoração. Como Cristo temos de viver como reconciliadores. É essa a idéia que o apóstolo Paulo fala e ele testifica a respeito de si mesmo, que tem feito isso, e ao que ao fazer isso, os sinais, os prodígios e o poder do Espírito Santo têm sancionado e apoiado o seu ministério. Conosco tem que ser a mesma coisa, as pessoas precisam ver esse amor brotando em nossos corações entre nós e por eles, eles precisam ver os sinais da presença do Espírito Santo em nossas vidas e em nosso ministério, os Seus prodígios e o Seu poder. E não há prodígio maior que o Espírito Santo faça do que levar os homens a perdoarem-se mutuamente, do que levar os homens ao arrependimento, do que levar os homens ao amor intenso, à bondade, à compreensão mútua; do que levar os homens a se tornarem guardiães uns dos outros. Paulo trabalha com essa mesma categoria que Cristo trabalhou: que a unidade testifica de Cristo, testifica da eficácia do seu ministério pacificador e dá credibilidade à nossa mensagem.



O exemplo de Paulo nos orientando no viver (Rm 15: 22 a 29)

Paulo diz aos irmãos que gostaria muito de visitá-los, mas que não está indo agora porque tem muito trabalho — não foi antes porque tinha muito trabalho, e não está indo agora porque ainda tem muito trabalho. Antes, porque ele está buscando anunciar a Jesus Cristo onde Ele ainda não fora anunciado; agora ainda não está indo porque ele recolheu uma oferta para os irmãos de Jerusalém, que foi levantada pelos irmãos da Macedônia e da Acaia, e, portanto, ele primeiro tem que levar essa oferta para socorrer os irmãos de Jerusalém. Mas ele pretende ir para a Espanha, por força do seu ministério e, de passagem, quer conhecer os irmãos de Roma. O apóstolo Paulo deixa claro, portanto, que ele tem uma vida centrada no ministério, uma vida centrada no seu chamado de ser ministro de Jesus Cristo entre os gentios; que isso é que absorve a sua vida, e que todas as outras coisas que ele gostaria de fazer, tais como visitar os irmãos de Roma, ele submete ao chamado maior que é o chamado do ministério. Hoje, precisamos aprender com Paulo: precisamos aprender que temos uma igreja para edificar, temos um evangelho a pregar, temos uma vida a viver, e que tudo tem de ser subordinado a isto. O grande papel da Igreja, hoje, é o papel de ministrador. Nós ainda não completamos a nossa missão, o nosso trabalho ainda está por fazer. Não podemos nos distrair com as coisas deste mundo. Temos que subjugar tudo ao serviço de Deus, temos de fazer tudo para a honra e glória dEle, temos de submeter todos os nossos desejos e até mesmo sonhos ao nosso grande chamado, que é o chamado de expressar Jesus Cristo e anunciá-Lo a toda criatura debaixo do sol. Paulo fazia assim. Paulo tinha a consciência que Orígenes descreve: que a melhor forma de ajudar a humanidade é viver cada vez mais pela edificação da Igreja. Paulo tinha a consciência de que não há vocação maior, não há chamado maior, não há interesse maior do que a pregação do evangelho, do que o de viver o evangelho — porque a pregação do evangelho precisa ser corroborada pela credibilidade que o viver o evangelho, e só o viver o evangelho concede. Nos dias de hoje, em tempos de escândalos, de angústias e de dores, precisamos retomar a vida do evangelho como princípio de credibilidade. O viver o evangelho como princípio de autoridade para anunciá-lo, e para convocar todos os homens ao arrependimento.



A solidariedade e comunhão cristã (Rm 15: 30 a 33)

Paulo pede orações, pede que os irmãos lutem com ele. E dá uma nova dimensão à questão da oração: oração é uma luta, para que o ministério que nos foi concedido seja cumprido. Precisamos reaprender isso. Temos transformado a oração num instrumento de busca de bênçãos particulares, mas não numa luta ministerial. Paulo diz: “lutem, lutem ao meu favor, juntamente comigo”. Para quê? Para que o seu ministério se cumpra, para que ele se veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia. Sim, porque estes haviam abandonado a graça, haviam se tornado pessoas que buscavam o seu próprio mérito pela obediência à lei mosaica e aos rituais. Nessa sua busca por meritoriedade, tinham se tornado adversários da graça de Jesus Cristo, da qual Paulo era o maior porta voz. Mas Paulo insiste que Deus o livre dos rebeldes da Judéia, não no sentido de que eles sejam subjugados, e que ele é que seja honrado, mas sim no sentido de que o serviço que ele está prestando em Jerusalém seja bem aceito. Ele está levando dinheiro para os irmãos, e ele espera que mesmo os rebeldes entendam que isso é meramente amor. E ele diz: “olha, espero que tudo isso dê certo para que eu possa visitá-los o mais rápido possível.” E é interessante como ele descreve o que é o encontrar irmãos: encontrar irmãos é ir com alegria, é recriar-se com os irmãos, é uma grande celebração. Que nós possamos ter esta visão de Paulo. Que as nossas orações sejam uma luta para que o nosso amor seja aceito, para que o nosso serviço seja aceito, para que possamos estar sempre alegres diante dos irmãos, e recriando-nos com eles. Que as nossas orações sejam uma luta para que possamos glorificar a Deus. Que não sejam orações que pensem única e exclusivamente na nossa dor de barriga, mas que, acima de tudo, focalizem o ministério da Igreja, o chamado da Igreja. E que, como Paulo, possamos ser solidários e clamar por solidariedade e por comunhão. Paulo pediu ajuda. E aqui, um princípio maravilhoso: nenhum cristão vai conseguir sem a comunidade, sem ajuda, sem abraço, sem fraternidade.



Alguns exemplos de vida cristã (Rm 16:1 a 9) Maravilha deste trecho das Escrituras é a descrição de modo claro de que a Igreja não é um projeto, não é uma instituição. A Igreja não é uma organização. A Igreja são pessoas. Pessoas que se amam, que se encontram, que se ajudam, que dão a sua vida umas pela outras. O Reino de Deus é, como dizia Hans Burk, acima de tudo, um Reino de amigos. Igreja é relacionamento. Igreja é encontro. Igreja não são programas, não são eventos, não são promoções, gincanas, concursos, ou seja lá o que for. Igrejas são pessoas se encontrando, se amando, orando umas pelas outras, servindo umas às outras mutuamente, buscando uma o bem da outra, unindo-se para buscar outras pessoas para virem ao encontro de Jesus Cristo. Igreja é o resultado do encontro de pessoas com Jesus Cristo, é o resultado do derramar do Espírito Santo na vida das pessoas — o Espírito Santo não se derrama sobre instituições, sobre organizações, sobre edifícios. O Espírito Santo se derrama sobre pessoas. Igreja é essa soma de relacionamentos. Vida cristã é vida de pessoas. Como se descreve vida cristã? Descrevendo pessoas. Vida cristã não é uma teoria, não é uma série de conceitos, mas pessoas expressando Jesus Cristo. E tem de ser assim hoje: vida cristã tem que ser descrita a partir de cristãos que encarnam a pessoa de Jesus.



Que fazer como nova criatura diante do mundo (Rm 16: 10 a 18)

Diante do mundo, devemos demonstrar a unidade, o amor, o carinho entre nós. Isto é que vai dar a credibilidade. Devemos ser pessoas que nos reconhecemos pelo nome, que somos capazes de reconhecer débito que temos uns para os outros, que somos capazes de descrever os nossos irmãos, os nossos amigos, as pessoas que cruzamos no caminho, pessoas por meio de quem Jesus Cristo nos orientou. Temos de ser capazes de demonstrar ao mundo que ressurgiu a humanidade. A unidade humana veio à tona na cruz de Cristo. Os homens agora podem se amar de novo, independente da raça, tribo, língua e nação; os homens podem se abraçar de novo, podem se tornar interdependentes de novo. Os homens deixaram de ser lobo do próprio homem, e se tornaram guardiães uns dos outros. Diante do mundo, devemos demonstrar isso. E por isso, devemos nos ajudar, para que entre nós não haja provocações de divisões e escândalos. Devemos trabalhar com os irmãos que têm esta tendência, para deixar claro a eles que isso não é admissível. A unidade da Igreja não pode ser quebrada! E o apóstolo Paulo vai mais longe: se eles insistirem, afastemo-nos deles. Denunciemo-los! Às vezes, em nome do corporativismo — porque não é em nome da unidade, mas em nome do corporativismo — toleramos os escândalos, toleramos os desvios, as provocações, as divisões. Toleramos aqueles que vivem para o seu próprio ventre, que vivem de lisonjas, que enganam o coração dos incautos. Temos de nos levantar contra isso. Temos que chamá-los à razão e a sensatez, e, se eles não se arrependerem, eles precisam ser denunciados, porque a Igreja se sustenta na unidade, no amor mútuo. Ela não pode tolerar a exploração do homem pelo homem, a subjugação dos homens. A Igreja não pode tolerar nenhum processo que aliene o ser humano. A Igreja tem de ser chamada à obediência, e tem de viver na obediência de Jesus Cristo; amar, buscar a unidade, pastorear o outro — não como dominador, mas como exemplo. Aqueles, portanto, que pastoreiam o seu próprio ventre, que provocam divisões, que andam em desacordo com a doutrina que convoca-nos ao amor, à misericórdia e a discrição, precisam ser chamados à sensatez, e, se não se arrependerem, precisam ser denunciados para o bem da Igreja. Porque o mundo nos observa. É verdade que os ímpios estão longe de Deus, mas não são burros, não são estúpidos. Eles sabem a diferença entre o que é viver segundo a mensagem de Jesus Cristo, e o que é utilizar-se de Jesus Cristo para alienar o ser humano.


Conclusão (Rm 16: 19 a 27) Deus será glorificado pela nossa obediência, pela nossa sabedoria, que será demonstrada para a nossa inclinação para o bem, e pela nossa total incapacidade de fazer o mal. E quando insistimos em fazer o bem, insistimos em manter o padrão de Jesus Cristo, somos mais do que vencedores — não apenas porque o bem sempre triunfa sobre o mal, mas porque o Deus da paz prometeu a todos aqueles que renderem-se a Jesus Cristo vitória absoluta sobre a ação do maligno. De modo que, enquanto nos mantemos submissos a Jesus Cristo, o Deus da paz esmaga debaixo dos nossos pés a Satanás. Mais uma vez, Paulo nos exorta a não esmorecer e a fazer o bem. E aqui ele toca muito próximo do mesmo conceito que Tiago esboçou, ou seja, de que, sujeitando-nos a Deus, e resistiremos ao diabo, e ele fugirá de nós. O apóstolo Paulo confia que o seu ministério é confirmado não pelas suas palavras ou pelo testemunho próprio, mas sim pelo Senhor Todo Poderoso. Confirma não só o evangelho que ele prega, mas confirma aqueles que crêem nesse evangelho. E o nosso desejo, nestes dias difíceis, é que Deus nos confirme. Que nos mantenha fiéis a si, que Deus nos mantenha na paz, pregando o grande mistério de que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo. E que, portanto, a nossa vida comunitária seja uma vida entre conciliados, que clamam a todos os homens, que se reconciliem com Deus, para poderem ser reconciliados uns com os outros e consigo mesmos.

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2007 Ariovaldo Ramos