Vinho Novo, Odres Novos - Parte 1

IGREJA BATISTA DE ÁGUA BRANCA

Guia de Estudo

Vinho Novo, Odres Novos

 

Este Guia de Estudo refere-se ao primeiro sermão da série Vinho Novo, Odres Novos, pregado pelo Pr. Ed René Kivitz em 7 de março de 2010 e disponível em áudio para download no site da Ibab (ibab.com.br). Ele foi elaborado para facilitar a discussão em Pequenos Grupos.

 

 

 

Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo forçará a roupa, tornando pior o rasgo. Nem se põe vinho novo em vasilha de couro velha; se o fizer, a vasilha rebentará, o vinho se derramará e a vasilha se estragará. Ao contrário, põe-se vinho novo em vasilha de couro nova; e ambos se conservam.

[Mateus 9.16,17]

1. O vinho novo

O vinho novo é o Evangelho da graça de Deus revelado em Jesus Cristo, em comparação ao vinho velho da Lei revelada em Moisés.

Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo.

[João 1.17]

Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.

[Hebreus 1.1,2]

1. Na celebração da última Páscoa e a instituição da Ceia Memorial, Jesus afirma: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês. [Lucas 22.14-20]

2. No batismo de Jesus por João Batista, o céu se abre e a voz de Deus se pronuncia dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” [Mateus 3.14-17].

3. Consciente de sua identidade e de sua missão de substituir Moisés como agente da aliança de Deus com os homens, no Sermão do Monte Jesus usa a fórmula: “Ouvistes o que foi dito, eu porém vos digo” [Mateus 5 a 7].

4. O primeiro milagre de Jesus, nas bodas de Cana, quando Jesus transforma a água da purificação em vinho, há um sinal claro de que a nova aliança celebrada no seu sangue substituiria a antiga aliança celebrada na Lei com Moisés [João 2.1-11].

5. No monte da transfiguração, estando presentes Moisés e Elias, a Lei e os profetas, a voz de Deus se pronuncia novamente dizendo: “Este é o meu Filho amado em quem me agrado. Ouçam-no!” [Mateus 17.5].

O Evangelho de Jesus Cristo é, portanto, o vinho novo posto no lugar do vinho velho, a saber, a primeira aliança, celebrada em Moisés.

Jesus tornou-se, por isso mesmo, a garantia de uma aliança superior. Ora, daqueles sacerdotes tem havido muitos, porque a morte os impede de continuar em seu ofício; mas, visto que vive para sempre, Jesus tem um sacerdócio permanente. Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles. É de um sumo sacerdote como este que precisávamos: santo, inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima dos céus. Ao contrário dos outros sumos sacerdotes, ele não tem necessidade de oferecer sacrifícios dia após dia, primeiro por seus próprios pecados e, depois, pelos pecados do povo. E ele o fez uma vez por todas quando a si mesmo se ofereceu.

[Hebreus 7.22-27]

Agora, porém, o ministério que Jesus recebeu é superior ao deles, assim como também a aliança da qual ele é mediador é superior à antiga, sendo baseada em promessas superiores. Pois, se aquela primeira aliança fosse perfeita, não seria necessário procurar lugar para outra. Deus, porém, achou o povo em falta e disse: “Estão chegando os dias, declara o Senhor, quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá. Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados, quando os tomei pela mão para tirá-los do Egito; visto que eles não permaneceram fiéis à minha aliança, eu me afastei deles”, diz o Senhor. “Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias”, declara o Senhor. “Porei minhas leis em sua mente e as escreverei em seu coração. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Ninguém mais ensinará o seu próximo, nem o seu irmão, dizendo: ‘Conheça o Senhor’, porque todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior. Porque eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados”. Chamando “nova” esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido está a ponto de desaparecer.

[Hebreus 8.6-13]

O Evangelho de Jesus Cristo é, portanto, o vinho novo posto no lugar do vinho velho, a saber, a primeira aliança, celebrada em Moisés. O Evangelho de Jesus Cristo é uma referência tanto à pessoa de Jesus em si, como também de tudo aquilo que nEle está contido – sua mensagem e sua obra: nascimento, morte e ressurreição.

2. Os odres novos

Odres são sacos confeccionados de pele de carneiro ou outro animal, feitos para reter líquidos. Nos tempos de Jesus eram usados para conter o suco da uva, que fermentava e dava origem ao vinho. Um odre velho já havia experimentado a expansão do couro e chegado ao seu limite, e nesse caso não deveria ser usado para conter um suco novo, pois a fermentação provocaria a expansão do conteúdo e rasgaria o odre. Jesus está ensinando que o continente deve ser adequado ao conteúdo.

Considerando que o vinho novo é o Evangelho de Jesus Cristo, a nova aliança, qual seria o paralelo em termos de odres, isto é, quais seriam os odres novos? Creio que há pelo menos três possibilidades de resposta, isto é, a expressão odres novos pode significar três coisas, senão as três.

(1) Um novo paradigma de pensamento

A Lei revelada em Moisés estava baseada no princípio de causa e efeito e da justiça retributiva, isto, recompensa pela obediência e punição pela desobediência. Leia, por exemplo, Deuteronômio 28, e veja a relação de bênçãos da obediência e maldições da desobediência.

Mas a Lei revelada em Moisés não pretendia ser um caminho para o relacionamento com Deus. A Lei era apenas uma forma de nos tornarmos conscientes de nossa injustiça e de nossa incapacidade de obedecer a Deus em plenitude. Paulo, apóstolo, disse que “ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado” [Romanos 3.20], e também que “não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: ‘Não cobiçarás’ [Romanos 7.7].

O nosso relacionamento com Deus, portanto, está baseado na graça de Deus e não em nossas virtudes.

Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da Lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.

[Romanos 3.22-26]

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.

[Efésios 2.8,9]

O vinho novo da nova aliança baseada na graça de Deus deve ser guardado no odre novo do novo paradigma de pensamento: não mais a justiça retributiva segundo a prescrições da Lei, mas o favor imerecido segundo a graça de Deus.

(2) Uma nova dinâmica de espiritualidade

A aliança celebrada na Lei de Moisés estava baseada em quatro pilares: culto, sacerdotes, sábado e templo.

Culto

Então, para o lugar que o Senhor, o seu Deus, escolher como habitação do seu Nome, vocês levarão tudo o que eu lhes ordenar: holocaustos e sacrifícios, dízimos e dádivas especiais e tudo o que tiverem prometido em voto ao Senhor.

[Deuteronômio 12.11]

Sacerdotes

Os sacerdotes levitas e todo o restante da tribo de Levi não terão posse nem herança em Israel. Viverão das ofertas sacrificadas para o Senhor, preparadas no fogo, pois esta é a sua herança. Não terão herança alguma entre os seus compatriotas; o Senhor é a sua herança, conforme lhes prometeu, pois, de todas as tribos, o Senhor, o seu Deus, escolheu os levitas e os seus descendentes para estarem na presença do Senhor e para ministrarem sempre em seu nome.

[Deuteronômio 18.1-4]

Sábado

Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo.

[Êxodo 20.8]

Templo

Quando Salomão acabou de construir o templo do Senhor e o palácio real, executando bem tudo o que pretendia realizar no templo do Senhor e em seu próprio palácio, o Senhor lhe apareceu de noite e disse: “Ouvi sua oração, e escolhi este lugar para mim, como um templo para sacrifícios.

[2 Crônicas 7.11,12]

Mas a nova aliança celebrada no sangue de Jesus estabelece uma outra dinâmica de vivência da fé. O relacionamento com Deus não está mais determinado pela observância dos limites da estrutura religiosa, mas imersa na vida como um todo.

Culto

Está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.

[João 4.19-24]

Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.

[1 Coríntios 10.31]

Sacerdotes

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Antes vocês nem sequer eram povo, mas agora são povo de Deus; não haviam recebido misericórdia, mas agora a receberam.

[1 Pedro 2.9,10]

Sábado

Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz. Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo.

[Colossenses 2.13-17]

Templo

Foi Salomão quem lhe construiu a casa. “Todavia, o Altíssimo não habita em casas feitas por homens. Como diz o profeta: ‘O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés. Que espécie de casa vocês me edificarão? diz o Senhor, ou, onde seria meu lugar de descanso? Não foram as minhas mãos que fizeram todas estas coisas?’”

[Atos 7.47-50]

Os elementos da antiga aliança serviram como figuras e guias na direção de Jesus. Foram importantes para fazer a transição do particular (Israel, culto, sacerdotes, sábado e templo) para o universal a-temporal (Igreja, composta por todos os povos, todas as atividades, de todos os cristãos, todos os dias, em todos os lugares).

A nova aliança exige que os elementos da estrutura religiosa sejam tratados como úteis (se é que de fato o são, e enquanto o forem), mas não imprescindíveis ou essenciais.

O desafio do Cristianismo contemporâneo não consiste em adequar a estrutura religiosa ao vinho novo, pois a dinâmica da espiritualidade cristã (vivência da fé) prescinde de qualquer estrutura. Não se trata de providenciar uma estrutura religiosa melhor, mas viver uma nova dinâmica de espiritualidade seja qual for a estrutura.

(3) Um novo tipo de gente

O vinho novo da nova aliança é derramado em um novo tipo de gente, a saber, gente que existe a partir de sua experiência de Deus, e da relação pessoal com o Espírito Santo de Deus, o que a Bíblia vai chamar de “novo nascimento”.

Darei a eles um coração não dividido e porei um novo espírito dentro deles; retirarei deles o coração de pedra e lhes darei um coração de carne.

[Ezequiel 11.19]

Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo. Perguntou Nicodemos: “Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e renascer!” Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito. O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”.

[João 3.3-8]

Mas vocês têm uma unção que procede do Santo, e todos vocês têm conhecimento (…) Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou.

[1 João 1.20,27]

O vinho novo da nova aliança celebrada no sangue de Jesus implica pessoas novas, transformadas pela experiência de Deus e guiadas pelo Espírito de Deus. Nenhum argumento ou instrumento de controle humano pode determinar a vida de qualquer pessoa na nova aliança. Somente o Espírito de Deus pode gerar pessoas embriagadas pelo vinho novo do Evangelho de Jesus Cristo. E as pessoas que beberem do vinho novo do Evangelho de Jesus Cristo jamais dependerão de qualquer argumento ou sistema de controle humano, pois serão o que serão pela atuação graça de Deus em suas vidas [1 Coríntios 15.10].

Considerações finais

A Ibab pretende dar concreção e conseqüência a essa compreensão do Evangelho de Jesus Cristo. Para isso, dentre tantas outras coisas, a Ibab está comprometida a ser:

um sinal histórico do reino de Deus, levando o evangelho todo ao homem todo, priorizando relacionamentos, envolvendo todos os seus freqüentadores além dos limites culto – clero – domingo – templo.

uma igreja para quem não gosta de igreja, e uma igreja para pessoas de quem a igreja não gosta.

© 2010 Ed René Kivitz